segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Os perigos de uma manobra ousada


O Airbus que sumiu na Indonésia tinha uma tempestade severa pela frente, com raios. Tudo indica que seja essa a causa do seu sumiço. Terão os tripulantes insistido em cruzar pela tormenta, mesmo sob risco?

Numa das últimas comunicações, o piloto requisitou desvio de rota. Não para os lados, como seria de se supor, mas para cima – literalmente, ele pede para “escalar” o topo da nuvem cumulonimbus (a mais perigosa para quem voa) e escapar da tempestade. Qual o motivo? Provavelmente, ao manter o roteiro, ainda que mais alto, evitaria o tremendo gasto de combustível que significa dar meia-volta. 

Os modernos radares e também o sistema interligado de satélites aeronáuticos avisam todos os aviões sobre a presença de tempestades, inclusive com alertas em vermelho nas telas. O problema é o manancial de efeitos colaterais que cruzar pela nuvem representa, mesmo quando se tenta subir acima dela.

Nuvens podem ter altural acima de 15 quilômetros


Piloto e professor de Ciências Aeronáuticas na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Goiás, Georges Ferreira ressalta que as cumulonimbus, como são chamadas as nuvens em forma de bigorna caracterizadas por poderosos ventos ascendentes e descendentes, podem atingir mais de 15 quilômetros de altura, algo muito superior à autonomia de qualquer avião. Significa que é impossível passar por cima de algumas delas.

– Alinhados os perigos, é preciso entender se o piloto desafiou mesmo o mau tempo ou se o avião sequer teria combustível para dar meia-volta ou ir para outro país mais distante. Algumas vezes, os pilotos voam com quantia de querosene suficiente apenas para alcançar o local de pouso previsto ou pouco além. Tudo isso, claro, supondo que a causa do sumiço seja essa – pondera o professor. 

O próprio Georges, dias atrás, rumou para uma nuvem de tempestade em Tocantins. Ao contrário de tentar passar por cima, desceu até próximo ao solo. Como os ventos ainda eram de altitude e não estavam próximos à terra, conseguiu fazer o pouso em segurança, mas desaconselha:

– O melhor é sempre desviar ou pousar antes.

Fonte: Humberto Trezzi (Zero Hora) - Foto: AFP

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