quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Duplo acidente aéreo completa 33 anos

Tragédias em Concórdia e Seara.


Trágica coincidência. Duplo acidente aéreo no mesmo dia, na mesma região e quase na mesma hora. Seus ocupantes iriam para a mesma cerimônia festiva. Na ocasião, a Rádio Rural de Concórdia, então pertencente ao grupo de empresas da Sadia, foi a fonte da informação dos sinistros acontecimentos para familiares, amigos, colegas das vítimas e dezenas de emissoras de rádio de todo o país. Lembro como se fosse hoje. Concórdia, 23 de setembro de 1981, quarta-feira. Eu trabalhava na Rádio Rural, única emissora da cidade, exercendo as funções de comunicador e diretor artístico.

Pois bem, aquela quarta-feira que se transformaria num fatídico dia, era para ser de festa, alegria, banda de música pelas ruas da cidade, foguetório e presença de autoridades de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Seria inaugurada a primeira loja de eletrodomésticos e eletroeletrônicos do grupo gaúcho JH Santos em território catarinense com ingredientes de um grande acontecimento. Seria.

O dia transcorria com o céu cor de chumbo e parte da população já vibrava com o voo baixo do primeiro táxi aéreo que chegava de Porto Alegre. Estavam nele, além do experiente piloto e proprietário do avião, Ercílio Caleffi, e da copiloto Marilda Zaiden de Mesquita (primeira mulher brasileira aviadora comercial); os passageiros Antonio Carlos Berta, então Secretário da Indústria e do Comércio do Rio Grande do Sul, Fábio Araújo Santos presidente da Federação das Associações Comerciais do seu estado e do Grupo JH Santos, o superintendente da MPM Propaganda, Adão Juvenal de Souza e José Carlos da Silva Reis, chefe do departamento de recursos humanos da JH Santos.

Aquela quarta-feira caminhava para o entardecer quando o pior aconteceu. O táxi aéreo chocou-se com um morro e explodiu em seguida diante de nossos olhos. No topo do morro, pedaços do avião em chamas e corpos irreconhecíveis queimados formavam o tétrico cenário. De repente alguém gritava destemperadamente por socorro. Era José Carlos da Silva Reis, o único sobrevivente dos seis tripulantes. Nos disse que estava na última poltrona da nave, sem o cinto, e que com o impacto seu corpo foi projetado para fora antes da explosão. Milagre, para ele. Ainda nos disse que as tripulações dos dois aviões mantiveram contatos através do rádio pelo menos uma vez.

Internado no Hospital São Francisco, de Concórdia, José Carlos no dia seguinte foi para o Hospital de Reumatologia de Porto Alegre. Nunca mais soube nada a seu respeito (*). Um outro passageiro teria sobrevivido mas não tenho dados. Enquanto estávamos aguardando ajuda para retirá-lo do local, o outro avião que partira de Florianópolis passava sobre nós. É claro que viram os destroços do outro. Ninguém duvidou disso.

Poucos minutos depois, meu Deus, chegava a notícia da queda do táxi-aéreo Camboriú provocando a morte de seus passageiros e tripulantes próximo ao município de Seara. Era muita coisa para um dia só!

No segundo acidente morreram o Secretário da Indústria e Comércio de Santa Catarina, Hans Dieter Schmidt, o Presidente da Associação de Comércio e Indústria de Santa Catarina, Lédio Martins, o empresário gaúcho Félix Araújo (irmão de Fábio que também morrera no outro acidente pouco antes), o comandante Keller, e o copiloto Rubens.

A equipe da Rádio Rural de Concórdia, que estava preparada para transmitir a festa de inauguração da primeira filial das lojas JH Santos em solo catarinense, acabou sendo porta-voz para todo o país, da inacreditável coincidência trágica. Do duplo acidente aéreo no mesmo dia, na mesma região, quase no mesmo horário. Foram dez mortos. Não tem como esquecer.

*Atualização: Segundo leitor Cláudio Oliveira, seu pai, Almeida de Oliveira também sobreviveu ao primeiro acidente relatado nesta matéria. Gerente de vendas em uma das empresas do grupo JH Santos, ele foi convidado para inauguração por conhecer toda a diretoria da Sadia Concórdia. O Sr. Oliveira teve 72% do corpo queimado e fez 8 cirurgias plásticas no Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre. Voltou a trabalhar e viveu com a sua família até 2004, quando faleceu aos 84 anos.

Fonte: Marcos Feijó (com a colaboração de Walter Filho) / radiorural.com.br - Foto: Reprodução

2 comentários:

Unknown disse...

Obrigada por manter viva a memória. Grande abraço

Unknown disse...

O OUTRO SOBREVIVENTE ERA ALMEIDA DE OLIVEIRA, MEU PAI. GERENTE DE VENDAS EM UMA DAS EMPRESAS DO GRUPO JH SANTOS E FOI CONVIDADO PARA INAUGURAÇÃO POR CONHECER TODA A DIRETORIA DA SADIA CONCÓRDIA. TEVE 72% DO CORPO QUEIMADO E FEZ 8 CIRURGIAS PLÁSTICAS NO HOSPITAL MOINHOS DE VENTO EM PORTO ALEGRE. VOLTOU A TRABALHAR E VIVEU COM A SUA FAMÍLIA ATÉ 2004 QUANDO FALECEU COM 84 ANOS.

CLAUDIO OLIVEIRA