terça-feira, 10 de abril de 2012

Crivella leva pastor de carona num avião da FAB

O ministro Marcelo Crivella (Pesca) ofereceu carona num avião da FAB ao pastor evangélico Wilton Acosta, presidente do Fenasp (Fórum Cristão Nacional de Ação Social e Político). Voaram juntos de Brasília para Campo Grande (MS). Viagem de ida e volta.


O deslocamento ocorreu há quatro dias, na quinta-feira (5) da semana passada. Em texto veiculado nesta segunda (9), a pasta da Pesca informou que Crivella foi ao Mato Grosso do Sul para entregar escavadeiras hidráulicas a 13 municípios e visitar as obras de um entreposto pesqueiro.

A notícia do ministério não menciona, mas Crivella cumpriu em Campo Grande uma agenda paralela. O repórter Ítalo Milhomem informa: antes dos compromissos oficiais, o titular da Pesca, que é bispo licenciado da Igreja Universal, participou de um café da manhã com outros pastores e com parlamentares evangélicos.

Crivella foi ao café acompanhado do “carona” Wilton Acosta, primeiro a descer do avião da FAB, conforme mostra o vídeo lá do alto. Além dele e do ministro, voaram nas asas da Força Aérea uma assessora da Pesca e o deputado federal Vander Loubet (PT-MS). Recepcionou-os o governador André Puccineli (PMDB).

O petista Vander é autor das emendas que injetaram no Orçamento da União as verbas usadas na aquisição das escavadeiras hidráulicas que o ministro entregou. Em tese, sua presença no vôo seria justificável. Quanto ao pastor Wilton Acosta, não participou senão do pedaço religioso e extraoficial da agenda do ministro.

Deu-se na sede matogrossense da Igreja Mundial. Crivella brindou os presentes com uma oração. A audiência incluiu o governador Puccinelli e dois candidatos à prefeitura de Campo Grande: o petista Vander, aquele que apresentou as emendas das escavadeiras, e o também deputado Edson Giroto, do PMDB.

Ao discursar, o “carona” Wilton Acosta convocou os “irmãos” a se unirem na fé e na defesa dos bons costumes na política. Debateu-se no encontro, por exemplo, a mobilização contra a liberação do aborto de bebês anencéfalos. Um tema que vai a julgamento no plenário do STF nesta quarta (11).

Terminado o café “cristão”, Crivella foi aos compromissos oficiais de sua agenda. O pastor Wilton permaneceu na igreja. Reencontraram-se mais tarde, no embarque de volta para Brasília. Tomaram, de novo, o avião da FAB, que os aguardava na Base Aérea de Campo Grande.

O uso de jatinhos da frota da Força Aérea é regulamentado por um decreto presidencial (4.244) baixado em maio de 2002, sob FHC. Menciona as autoridades que podem voar: vice-presidente, presidentes do Senado, da Câmara e do STF, ministros e autoridades com status ministerial.

Estipula as situações em que os aviões podem ser requisitados. Pela ordem: “por motivo de segurança e emergência médica, em viagens a serviço e deslocamentos para o local de residência permanente” das autoridades.

Anota que o Ministério da Defesa e o Comando da Aeronáutica poderão “autorizar o transporte de outras autoridades –nacionais e estrangeiras”. Aos olhos da administração pública, o pastor Wilton Acosta não se enquadra no rol de “autoridades” admissíveis como passageiros.

Diz ainda o texto: “O transporte de autoridades civis em desrespeito ao estabelecido neste decreto configura infração administrativa grave, ficando o responsável sujeito às penalidades administrativas, civis e penais aplicáveis à espécie.”

Procurado, o Ministério da Pesca alegou que Crivella convidou o pastor para acompanhá-lo no voo porque Mato Grosso do Sul é o Estado natal de Wilton Acosta. A FAB reagiu à moda de Pilatos. “As informações sobre rotas, listas de passageiros e demais detalhes dos voos são de responsabilidade das autoridades transportadas”, lavou as mãos a Força Aérea.

Entrevistado pelo telefone, o pastor caroneiro reconheceu que não participou da agenda oficial de Crivella. “Fiz uma reunião em Campo Grande com os deputados, vereadores e lideranças para discutir uma estratégia de atuação da Fenasp nas Câmaras e Assembléias”, disse.

Por que diabos voou na companhia do ministro? “Nós tínhamos um agenda conjunta, não há nada de ilegal, foi autorizado e não é uma prática habitual.” Se tivesse viajado em avião comercial, o pastor teria desembolsado algo entre R$ 1.200 a R$ 1.750 para a ida e quantias semelhantes para a volta. De FAB, o contribuinte pagou os dois trechos.


Nota do autor:

Eu não esperava nada diferente dessa espécie de político. Que, aliás, é maioria neste país.

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